Uma pausa para um cafezinho! Uma conversa à toa para desbanalizar o dia a dia... Um espaço e um momento solto no ar, preso no olhar inutilmente essencial.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Pelo bem de um dia Nublado


Por Joe Cruz

Há muito não chovia... Durante quase três meses, o sol pareceu não ter a mínima vontade de nos fazer sentir a sua falta: clareando o dia, brilhando forte, cheio de vida e calor; o céu limpo e azul parecia hostilizar o passeio das nuvens. Sopros quentes de ventos vespertinos, agitavam os finais das tardes. À noite, a lua enchia-se com sua vaidade feminina, não permitindo que a escuridão ofuscasse suas formas perfeitas. Até o tempo parecia deslizar numa euforia juvenil, correndo rápido, atropelando horas, minutos e segundos, esgotando-se em seu próprio deleite.
Períodos assim, favorecem maior percepção das cores, dos sons, das paisagens, das esperanças... Pessoas se dizem mais alegres, dispostas e entusiasmadas em tempos assim; algumas até sente-se mais bonitas e desejadas!


Acontece que isso passa. As chuvas voltam e alteram a paisagem com nuvens lentas e pesadas, ventos frios e silenciosos. As cores, outrora vivas, se deixam tomar pela tonalidade acinzentada de caráter melancólico que transforma o dia num combinado estranho de beleza e escuridão. Dias assim instigam o silêncio e, portanto, a sensibilidade do olhar.

Reparando com certo cuidado, é possível perceber alguma semelhança entre o humor dos dias e nosso estado de espírito. Às vezes estamosTempestade”, enraivecidos entre estouros de trovões e lampejos de relâmpagos. Outras, estamos “Frios e Nublados”, indiferentes à dor alheia. Muitas vezes estamos “Ensolarados”, irradiantes e agradáveis para o mundo todo. Quando estamos “Ventania”, somos música delicada a flutuar no ar.

Para além das analogias, sinto realmente que exista alguma influência do caráter do dia no conteúdo do que pensamos e sentimos. Numa das semanas da primavera deste ano, tivemos o privilégio de dias melancolicamente inspiradores. Choveu fraco e fez frio. Manhãs escuras, silenciosas e lentas. Neste “clima”, o corpo se contrai e a alma se expande, os ouvidos pedem músicas menos agitadas e mais intensas. Assim compõe-se o cenário propício para o aprofundamento de reflexões que normalmente não fazemos; para o resgate de sentimentos esquecidos no baú das memórias ou para a elevação da concentração sobre o agora. Este silêncio nublado, favorece o olhar para o interior de si e o esforço para a compreensão do outro.

Dias de sol e céu aberto são maravilhosos e nos distrai com sua beleza e energia. Dias nublados se mostram pouco para que possamos nos enxergar melhor, pois como diz Rubem Alves: É preciso desencaixotar emoções e recuperar sentidos. 

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