Uma pausa para um cafezinho! Uma conversa à toa para desbanalizar o dia a dia... Um espaço e um momento solto no ar, preso no olhar inutilmente essencial.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Pó, poeira, teias de aranha, sorriso enferrujado...


Pó, poeira, teias de aranha, sorriso enferrujado...
Joe Cruz
Há coisas que se perdem no tempo e com o tempo. Algumas, pela natural ação do tempo, tornam-se depois de perdidas, também esquecidas e o que se esquece não incomoda. Outras, por estarem somente perdidas, visitam constantemente a memória pedindo para serem encontradas ou substituídas. 

 A perda de um objeto prático, como uma caneta ou as chaves de casa requer sua substituição imediata, pois a necessidade não permite que se esqueça deles. Já objetos de valores subjetivos como um livro ou um disco podem permanecer perdidos em algum canto da casa (ou da alma) sem que sua falta seja ao menos percebida. E neste caso, o prazer do reencontro faz lembrar o gosto de vida, pois recordar algo que algum dia inspirou e intensificou dias da própria vida, parece trazer de volta seu valor potencializado. Mas objetos são apenas objetos: de valor prático ou subjetivo, não passam de coisas consumidas pela necessidade, pela vontade e pelo tempo. O esquecimento de coisas é uma questão de tempo! O trágico é a perda da lembrança do gosto...

Há quem perca a vontade de viver e logo esquece o prazer do sorriso e a beleza dos dias, perde a vida; o poeta que perde o gosto da escrita e esquece o olhar da poesia, perde o poema; a criança crescida que perde a lembrança da infância pode esquecer o sabor da alegria e perde a criança... Recentemente lembrei-me de uma melodia. Uma musiquinha muito simples, fácil de assoviar. Enquanto caminhava a assoviava baixo pra ninguém notar meu êxtase crescente por recordar lentamente que aquela melodia que me veio tão de repente era uma antiga amiga que conheci quando comecei aprender a tocar. Já em casa, o assovio se transformou em som de flauta e meu prazer maior foi constatar que não havia perdido a vontade, nem esquecido a felicidade de tocar!
Das coisas e dos prazeres que perdi, espero que ainda guardem a graça de outrora porque dela já não lembro. E se hei de recordar, que seja de repente, numa visita inocente num canto da casa ou num canto da alma.

                                                                                                                 

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