Uma pausa para um cafezinho! Uma conversa à toa para desbanalizar o dia a dia... Um espaço e um momento solto no ar, preso no olhar inutilmente essencial.

Café & Arte - 90 anos da semana que mudou o rumo das Artes no Brasil

Há 90 anos, eles ocuparam por uma semana (de 13 à 17 de fevereiro de 1922) o Teatro Municipal de São Paulo para o redescobrimento e independência do Brasil Cultural. Romperam com padrões e promoveram uma inovação artística sintonizada com as tendências europeias porém fortemente ligadas às essências brasileiras.

Evento memorável que merece e deve ser lembrado.

 Grande parte das informações que compõem esta página, foram extraída do site "Semana 22 - Publicação do projeto de pesquisa - a ideia de cultura brasileira"
 Para saber mais, clique aqui e visite o site que é repleto de informações e curiosidades tanto da Semana quanto de todos os intelectuais que participaram.


SEMANA

Um dos principais eventos da história da arte no Brasil, a Semana de 22, foi o ponto alto da insatisfação com a cultura vigente, submetida a modelos importados, e a reafirmação de busca de uma arte verdadeiramente brasileira, marcando a emergência do Modernismo Brasileiro. A partir do começo do século XX, era perceptível uma inquietação por parte de artistas e intelectuais em relação ao academicismo que imperava no cenário artístico.
Desta semana tomam parte pintores, escultores, literatos, arquitetos e intelectuais. Durante três dias - entre 13 e 17 de fevereiro - o Teatro Municipal de São Paulo foi tomado por sessões literárias e musicais no auditório, além da exposição de artes plásticas no saguão, com obras de Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Victor Brecheret, Ferrignac, John Graz, Martins Ribeiro, Paim Vieira , Vicente do Rego Monteiro, Yan de Almeida Prado e Zina Aíta ( pintura e desenho ), Hildegardo Leão Velloso e Wilhem Haarberg ( escultura ). As manifestações causaram impacto e foram muito mal recebidas pela plateia formada pela elite paulista, o que na verdade contribuiria para abrir o debate e a difusão das novas ideias em âmbito nacional.


 
São Paulo se caracteriza como o centro das ideias modernistas, onde se encontra o fermento do novo. Do encontro de jovens intelectuais com artistas plásticos eclodirá a vanguarda modernista.
A Semana de Arte Moderna de 22 é o ápice de um processo que visava à atualização das artes, e a sua identidade nacional. Pensada por Di Cavalcanti como um evento que causasse impacto e escândalo, esta Semana  proporcionaria as bases teóricas que contribuirão muito para o desenvolvimento artístico e intelectual da Primeira Geração Modernista e o seu encaminhamento, nos anos 30 e 40, na fase da Modernidade Brasileira.


 
Os caras !



ANTECEDENTES DA SEMANA

Para se entender o processo do movimento modernista brasileiro é necessário olhar para o contexto das duas primeiras décadas do século: ainda muito presos ao academicismo e às influências francesas da belle époque, alguns jovens de São Paulo, intelectuais e artistas começam a sentir a necessidade de uma atualização das artes, ao mesmo tempo que uma busca de identidade nacional, através do retorno às raízes culturais do país.
As informações fragmentadas sobre as vanguardas vindas da Europa vão confluir com esta necessidade de renovação.
A exposição de Anita Malfatti, em 1917, instiga os artistas e jovens intelectuais a se organizar como grupo e promover a arte moderna nacional, que terá lugar em São Paulo, embalado pelo progresso e industrialização acelerada. Em 1920, o grupo de jovens paulistas, já denominados futuristas descobre Victor Brecheret, recém-chegado de Roma. Sua escultura pós-Rodin, as estilizações das figuras monumentais e o vigor e expressividade das tensões musculares, alongamentos e torções das esculturas causam grande impacto e, de imediato. A partir daí sentiu-se a necessidade de um evento de magnitude e acompanhado de escândalo que marcasse estas novas direções da arte, trazidas pelos incidentes com Anita e pelo ingresso de Brecheret ao grupo - este evento será a Semana de Arte Moderna de 22. 



Algumas obras de pintores que coloriram a Semana...

Anita Malfati que durante a semana foi duramente criticada pelo escritor Monteiro Lobato no artigo "Paranóia ou Mistificação?"

 
Retrato de Mario de Andrade, grande admirador da pintora, que após a Semana de Arte Moderna de 22 cresceu em importância no cenário cultural paulista. Foi por intermédio de Mario de Andrade que Anita conseguiu o Pensionato Artístico do Estado de São Paulo, e em 1923 a pintora partiu para a França.


A estudante russa. (1915)



Tanto nas paisagens quanto nos retratos, a cor é o principal instrumento da jovem Anita Malfatti. A obra O homem de sete cores revela essa preocupação intensa, e essa técnica também irá produzir grandes telas como A boba.

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Di  Cavalcanti foi um dos idealizadores da Semana da Arte Moderna e referência muito importante para todo o grupo modernista e, desde então, para a história das artes plásticas no Brasil.


Nesta obra, concluída antes da viagem a Paris empreendida pelo artista em 1923, há ecos do Art Nouveau e do Simbolismo na estilização sinuosa das figuras alongadas e no tratamento do cenário decorativo e misterioso. 

Samba (1925)



Serenata (1925)

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O ambiente renovado pela Semana de Arte Moderna de 22 e as cores e a luminosidade tropicais inspiram a pintura de Lasar Segall, cuja temática envolve a guerra, a questão judaica, os trabalhadores, as prostituas e a vida dos imigrantes.



A família 



Mercadores 


 Perfil de Zulmira

 
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Teatro Municipal nos anos 20


Dia 13/02 (primeiro dia)

A Semana de Arte Moderna é inaugurada no Teatro Municipal de São Paulo com palestra do escritor Graça Aranha, ilustrada por comentários musicais e poemas de Guilherme de Almeida. O primeiro dia corre sem tropeços. Depois da longa e erudita fala de Aranha, um conjunto de câmara ocupa o palco para executar obras de Villa-Lobos. Após o intervalo, Ronald de Carvalho discursa sobre pintura e escultura modernas. A platéia começa a se manifestar. Diante dos zurros do público, Ronald de Carvalho devolve: "Cada um fala com a voz que Deus lhe deu."
O "gran finale" surge na forma de um recital de música comandado pelo maestro Ernani Braga.

Dia 15/02 (primeiro dia)
A noite que celebrizou a semana começa com um discurso de Menotti del Picchia sobre romancistas contemporâneos, acompanhado por leitura de poesias e números de dança. É aplaudido. Mas, quando foi anunciado Oswald de Andrade, começaram as vaias e insultos na platéia, que só param quando sobe ao palco a aclamada pianista Guiomar Novaes.
Dia 17/02 (primeiro dia)

A última noite da programação é totalmente dedicada à música de Villa-Lobos. As vaias continuam até que a maioria pede silêncio para ouvir Villa-Lobos. Os instrumentistas tentam executar as peças incluídas no programa apesar do barulho feito pelos espectadores e levam o recital até o fim.



O Mastro Heitor Villa - Lobos

Homenagem aos 125º aniversário de nascimento de Tarsila do Amaral



Tarsila do Amaral (1886-1973)

Tarsila foi uma das mais importantes pintoras brasileiras do Movimento Modernista.

As informações e comentários sobre as obras, foram extraídas do Site Oficial da artista.


Abaporu - Este é o quadro mais importante já produzido no Brasil. Tarsila pintou um quadro para dar de presente para o escritor Oswald de Andrade, seu marido na época. Quando viu a tela, assustou-se e chamou seu amigo, o também escritor Raul Bopp. Ficaram olhando aquela figura estranha e acharam que ela representava algo de excepcional. Tarsila lembrou-se então de seu dicionário tupi-guarani e batizaram o quadro como Abaporu (o homem que come). Foi aí que Oswald escreveu o Manifesto Antropófago e criaram o Movimento Antropofágico, com a intenção de "deglutir" a cultura européia e transformá-la em algo bem brasileiro. Este Movimento, apesar de radical, foi muito importante para a arte brasileira e significou uma síntese do Movimento Modernista brasileiro, que queria modernizar a nossa cultura, mas de um modo bem brasileiro. O "Abaporu" foi a tela mais cara vendida até hoje no Brasil, alcançando o valor de US$1.500.000. Foi comprada pelo colecionador argentino Eduardo Costantini. 


Chapéu Azul - Esta tela foi realizada depois de Tarsila frequentar o ateliê de Emile Renard. As telas dessa época possuem uma grande suavidade e uma atmosfera lírica.


A Negra - Esta tela foi pintada por Tarsila em Paris, enquanto tomava aulas com Fernand Léger. A tela o impressionou tanto que ele a mostrou para todos os seus alunos, dizendo que se tratava de um trabalho excepcional. Em A Negra temos elementos cubistas no fundo da tela e ela também é considerada antecessora da Antropofagia na pintura de Tarsila. Essa negra de seios grandes, fez parte da infância de Tarsila, pois seu pai era um grande fazendeiro, e as negras, geralmente filhas de escravos, eram as amas-secas, espécies de babás que cuidavam das crianças.

Carnaval em Madureira - Tarsila veio de Paris e passou o carnaval de 1924 no Rio de Janeiro. É curioso ver que ela colocou a famosa Torre Eiffel no meio da favela carioca.
 
A Cuca - Tarsila pintou este quadro no começo de 1924 e escreveu à sua filha dizendo que estava fazendo uns quadros "bem brasileiros", e a descreveu como "um bicho esquisito, no meio do mato, com um sapo, um tatu, e outro bicho inventado". Este quadro é também considerado um prenúncio da Antropofagia na obra de Tarsila e foi doado por ela ao Museu de Grenoble na França.


Manacá - Linda tela, com um colorido forte. Esta flor é representada por Tarsila de uma maneira particular, bem típica da obra dela.


A Lua - Este quadro era o preferido de Oswald de Andrade, seu marido quando pintou a tela. Ele conservou o quadro até sua morte (mesmo já separado de Tarsila).


Antropofagia - Nesta tela temos a junção do "Abaporu" com "A Negra". Este aparece invertido em relação ao quadro original. Trata-se de uma das telas mais significativas de Tarsila e o colecionador Eduardo Costantini, dono do "Abaporu", está muito interessado no quadro e já ofereceu uma soma muito alta por ele (que foi recusada pelos atuais donos).