Uma pausa para um cafezinho! Uma conversa à toa para desbanalizar o dia a dia... Um espaço e um momento solto no ar, preso no olhar inutilmente essencial.

Café & Rock'n'Roll

  É comum vermos em revistas ou em sites especializados em música, as polêmicas listas de “Melhores”: melhores vocalistas, guitarristas, capas e por aí vai... Algumas dessas listas ainda arriscam a classificar os selecionados com um enfático “De todos os tempos”. Não raro, após a publicação dessas listas, aparecem os fervorosos opositores ridicularizando as seleções e cobrando justiça aos seus preferidos. Bom, mas isso é de se esperar, pois selecionar uma “lista de melhores isso ou aquilo”, equivale a escalar o time da seleção de futebol do Brasil.
Pois então, isto que segue abaixo não tem por intenção estabelecer uma seleção de melhores discos da história do Rock, visto que para isso seria preciso muito mais do que gosto pessoal e muito (mas muito mesmo) conhecimento sobre o assunto para ter, ao menos, essa pretensão. É apenas uma simples homenagem a esse simpático senhor de cabelos compridos já grisalhos e longa barba branca, de alma eternamente jovem, que nos permite apreciar suas criações livremente, sem ditar tendências (pois sábio como é, entende que são infinitas as possibilidades). E fica ele parado, sentado ao trono assistindo a evolução de sua espécie...
Para que fique claro, qualquer semelhança com Deus é mera coincidência, falo mesmo é do velho ROCK'N'ROLL!!!
Ciente da injustiça de não citar muitos outros discos merecedores de homenagem, me detenho ao consolo de fazer justiça a estes aqui lembrados.

Forte abraço aos roqueiros malucos do Café Gelado!!!
(Joe Cruz)


                                                    Beatles - Abbey Road (1969)
  Penúltimo álbum lançado pelos Beatles, Abbey Road foi gravado em 1969 com a banda ainda em clima de turbulência por conta da escolha de um novo empresário após a morte do antigo, Brian Epstein. É com certeza um dos discos mais importantes da banda por vários motivos, dos quais se destacam: a firmação de Harrison como excelente compositor após quase toda a carreira à sombra de Lennon e McCartney , criando as maravilhosas “Here come the sun” e “Something” que chegou a ser eleita a melhor música do disco pela revista norte americana Time; e a caprichada e minuciosa produção e orquestração do George Martin que chegou a escolher este como o melhor disco gravado pelos Beatles. O disco teve sua origem na cabeça de Paul que propôs a George Martin que os Beatles gravassem um disco em estúdio “ao vivo, como nos velhos tempos”. George aceitou e o disco passou a ser trabalhado. O resultado é esta verdadeira obra – prima com nada menos que 17 faixas, sendo divididas em 6 no lado A, (com durações maiores para agradar a Lennon) e 11 no lado B, (com durações menores e menor espaço entre as faixas para agradar a McCartney). O disco abre com um “chuuunc” da eterna “Come together” que tornou-se praticamente um hino. E segue-se magnificamente bem ao estilo Beatles, surpreendendo com uma balada ao estilo anos cinquenta, “Oh Darling!” e com uma música de Ringo “Octobu's Garden”. A última música do disco é “The End” composta por McCartney que, talvez propositalmente, é a música que fecha o disco e a carreira dos Beatles. Foi a última música gravada pela banda. A foto da capa foi também ideia de Paul e é até hoje alvo de várias especulações concentradas em pequenos detalhes, como o fato de Paul estar descalço, descompassado em comparação aos outros e estar segurando o cigarro na mão direita (ele é canhoto). Para muitos, estas seriam indicações de que Paul estaria morto.

                                                                Led Zeppelin - II (1969)
 Segundo álbum do Led, lançado em outubro de 1969. Abre com um dos riffs de guitarra mais conhecidos e cultuados da história do rock: “Whole lotta Love”, esta inclusive rendeu ao Led uma acusação de plágio da música “You need Love” do bluesman Willie Dixon. Polêmicas à parte, o disco é recheado com faixas pesadas esbanjando o bem sucedido casamento da inconfundível guitarra de Jimmy Page com a voz aguda e rasgada de Robert Plant. O disco repousa na última faixa do lado A, “Thank You” e volta ao seu pique com o riff marcante da primeira faixa do Lado B, “Heartbreaker”. Para encerrar, os tripulantes do Zeppelin nos oferecem uma chapante viagem com a instrumental “Moby Dick” e “Bring it on Home”.

                                                    The Doors - Morrison Hotel (1970)
  O quinto álbum dos Doors tem seu lugar reservado na parede das obras – primas do rock. Não por ser o melhor disco da carreira da banda ou “o mais isso” ou “o mais aquilo”, mas sim porque é simplesmente um verdadeiro disco de Classic Rock. O álbum é lançado entre o experimentalismo não bem recebido de “Soft Parade” e o blues imponente do derradeiro “L.A. Woman”. Este fato já deixa o disco, no mínimo, numa posição importante para os Doors e fazem com que “Morrison Hotel” seja apreciado por demonstrar a flexibilidade musical da banda. Lançado em 1970, o disco abre com o rock blues “Roadhouse Blues”, clássico incontestável e segue para a bucólica “Waiting for the Sun”. Manzereck, introduz a terceira faixa com uma frase repetida ao piano que lembra músicas dos velhos saloons do oeste americano com a embriagante “You make me real”. O disco ainda dispõe de ótimas composições como “Lady Ho!” e “Queen of the highway”. Morrison tem ótimo desempenho na gravação do disco, mostrando uma voz mais lúcida como no caso da música “Ship of Fools” e outrora suave e comedida como em “Blue Sunday” e “Spy”.

                                            Black Sabbath - Black Sabbath (1970)
  Álbum de estreia da que seria, mais tarde, reconhecida como a banda que mostrou o caminho para o rock pesado. E “pesado” para o Sabbath (e principalmente sua gravadora), deveria ter um contexto além da música. Cria-se então desde o primeiro disco, um ambiente sombrio e inóspito que definiria a banda. A começar pelo nome: de Earth o grupo passa a se chamar Black Sabbath, nome tirado de um filme de terror da década de 60; depois a capa que traz uma bruxa assustadoramente misteriosa em primeiro plano e ao fundo um sobrado sombrio. E para completar todo o clima, o dia escolhido para o lançamento do disco é uma sexta-feira 13 das piores.
Até o lançamento deste disco em 1970, o mundo ainda vivia a anestesia do “Paz e Amor” ao som de voz e violão. Não é difícil imaginar o impacto que causou o disco que já começa com um bater de sinos e trovões e desponta com três notas de guitarra que parecem invocar o próprio Demo! Ozzy então surge impostando a voz nos primeiros versos da música “Black Sabbath”: “ - What is this that stand before me” (O que é isso que se levanta na minha frente?).Isso é mais que suficiente para anunciar que a bruxa, a partir dali estaria solta. Bom, mas marketing a parte, Black Sabbath é um ótimo disco de rock n roll. E traz clássicos indispensáveis para história como: “N.I.B”, “The Wizzard” e “War Pigs” que dispensam comentários.


                                                   Deep Purple - Machine Head (1972)
  Lançado em 1972, este é o sexto álbum da banda. Tem apenas sete faixas, porém é mais do que o suficiente para afirmar o poder do disco que começa num som crescente até a explosão dos acordes de “Highway Star”. Os teclados de John Lord e a guitarra de Blackmore parecem se divertir nos solos desta faixa. Ian Paice exibe toda sua versatilidade com perfeição nos primeiros segundos da embriagante “Pictures of Home”. Gillan deixa claro neste disco (mais do que em qualquer outro) que seu lugar é mesmo no Purple. O disco foi gravado em 1971 em Montreux, Suíça, no estúdio móvel dos Stones. Primórdio do som pesado, Machine Head ainda dispõe de clássicos incontestáveis como “Smoke on the Water” e “Space trucking”.

                                        Pink Floyd - The Dark Side of the Moon (1973)   
 Considerado por muitos, o melhor disco da banda, The Dark Side foi lançado em 1973 e trata-se de um marco para a história do rock progressivo e do rock n roll em seu contexto geral. A intensidade desta obra – prima, deve-se a princípio à abordagem de temas complexos apoiados na genialidade das letras fortes de Water. A musicalidade do álbum é coerentemente complexa e a junção do experimento de vários efeitos sonoros (inéditos até aquele momento), vozes faladas entre e durante as faixas, os ecos e as próprias composições, dão ao disco um clima obscuro e de íntima reflexão. Este álbum foi um fenômeno comercial tendo permanecido por mais de 14 anos na lista da Billboard 200, sendo um dos álbuns mais vendidos do mundo. Fatos curiosos sobre este discos não faltam, porém um em particular é sempre discutido quando se fala em “the dark side of the moon”. Em 1994 um grupo de fãs incondicionais do disco, encontraram semelhanças entre o disco e o filme “O mágico de Oz” de 1939. Segundo eles, as duas obras ao serem executadas simultaneamente apresentam uma série de fatos correspondentes. Funciona quase como se o disco fosse a trilha sonora para o filme. Este fato rendeu inclusive nome próprio (The Dark Side of Raimbow). O Pink Floyd, por sua vez, nega que o disco tenha sido composto de acordo com o filme, porém admite a impressionante coincidência.


                                                  Jethro Tull - Aqualung (1971) 
  Este é o quarto álbum da banda, lançado em março de 1971, é sem dúvida o disco mais conhecido da carreira do Jethro Tull, principalmente devido à faixa - título. “Aqualung” é a música ideal para a abertura deste tão aclamado disco, variando entre a guitarra distorcida de Martin Barre, com uma introdução marcante, e a perfeita harmonização do suave violão e a voz de Ian Anderson. Jonh Evan ao piano dá à música a pitada clássica típica da banda. Curiosamente, a música não tem os emblemáticos solos de flauta de Ian Anderson. Em "Cross-Eyed Mary", segunda faixa, a introdução fica por conta da famosa flauta e desponta na pegada rock n roll com a fabulosa interpretação de Ian Anderson que permeia todo o disco. O lado B é dedicado à críticas sobre religiões e arrebata com as hipnotizantes “My God” e "Hymn 43". Entre elementos clássicos, folks, medievais e, sobre tudo, rock n roll, “Aqualung” torna-se um disco essencial para a história do rock.
                                                             Rush - 2112 (1976)
  Nos dois primeiros discos do Rush no início da década de 70, o som da banda podia ser classificado apenas como rock n roll ou hard rock, muito bem feito por sinal. Porém o terceiro álbum (Cares of Steel) já mostrara uma outra vertente do trio que os tornaria consagrados no mundo do rock: o progressivo. Provavelmente isso se deve à entrada do letrista e baterista Neil Peart. Com letras mais complexas e temas mais abrangentes, se fez necessário músicas coerentes com o novo estilo. O ponto alto dessa experiência resultou no fantástico 2112. Lançado em 1976, este disco é considerado um marco para o rock progressivo. Já em seus primeiros segundos, fica evidente o que vem pela frente, com um som futurista que parece querer nos transportar ao ano de 2112, onde acontece toda a viagem do tema da música dividida em sete partes e mais de vinte minutos. Apenas o lado A do disco é considerado conceitual, já que o lado B são de músicas comuns (exigência da gravadora que não acreditava no sucesso comercial de um disco inteiramente conceitual). Mas essas “comuns” não se limita ao sentido puro da palavra, pois o lado B traz pérolas como “A Passage to Bangkok”, “ The Twiligth Zone” e “Something for Nothing” que incrementam a obra. Nas músicas deste álbum, torna-se evidente toda a capacidade técnica e versátil do Rush. Os vocais de Geddy Lee são em maior parte liricamente agressivos; a guitarra de Alex Lifeson harmoniza freneticamente com as complexas linhas de baixo das partes mais rápidas e, por vezes, se mostra precisa e melódica como na balada acústica “Tears”. Neil Peart faz jus ao reconhecimento de um dos melhores bateristas do mundo neste disco, pois a intensidade do álbum também se deve a linha rítmica proposta por ele do início ao “The Grand Finale”.

Ufo - Ligths Out (1977)
  Lights Out é um daqueles (dentre tantos outros) discos que não se sabe ao certo o motivo de seu pouco reconhecimento. Com um som original e muito bem elaborado, o sexto álbum do Ufo tem motivos de sobra para ser considerado um grande clássico da história do rock. Após a entrada do excelente guitarrista Michael Schenker em 1974, a banda vivia uma inspirada fase lançando grandes álbuns, fincando vários clássicos no arenoso solo do rock mundial como “Doctor Doctor” e “Rock Bottom”. O ponto alto dessa fase, deu-se em 1977 com o lançamento do, simplesmente, arrebatador Lights Out. O disco abre com o som característico da banda com “Too hot to Hendle” servindo de impulso para a próxima faixa, “Just another suicide”, mais introspectiva. “Try me” é uma deliciosa viagem reflexiva. O lado A do disco, fecha com a marca da guitarra de Schencker que influenciou tantos outros ótimos guitarristas depois dele, com as cavalgadas da estonteante “Ligth Out”. O lado B não decepciona, muito pelo contrário, abre logo com uma paulada na distorção de “Getting Ready” e o riff eletrizante de “Eletric Phase”. Ainda no lado B, a banda oferece uma capricha interpretação e um belo arranjo para a música “Alone again or” do Love. O disco fecha com a magnifica balada “Love to Love” que deixa qualquer um perdido com os contra – tempos da longa introdução, porém não demora a se encontrar no envolvente solo de Michael Schencker. Sem dúvida alguma, um disco com todos os elementos para ser memorável.

                                             Ozzy Osbourne - Blizzard of Ozz (1979) 
  Após sua saída do Sabbath em 1978, Ozzy lança seu primeiro disco solo em 1980. O disco chega aos ouvidos dos fãs do Black Sabbath satisfazendo todas as expectativas com um som pesado, contundente, convencendo que o Heavy Metal teria ainda vida longa. Este álbum rendeu a Ozzy Osbourne e sua gravadora CBS records, além da ótima recepção do público e da crítica especializada, muita polêmica, a começar pela capa. Ozzy aparece na capa num cenário sombrio, devidamente trajado como seria conhecido mais tarde: O príncipe das trevas; a música “Mr. Crowley” também chamou a atenção por reverenciar o esotérico inglês Aleister Crowley. Mas foi somente em 1984 que o disco traria a “dor de cabeça” maior. Um adolescente americano de 19 anos suicida-se após ouvir a música “Suicide Solution”, faixa 5 do lado A do disco. Os pais do garoto levam Ozzy e a gravadora para os tribunais, porém perdem a causa pois foi provado em juri que o adolescente já sofria de depressão muito antes de conhecer o disco de Ozzy e os pais não lhe deram a devida atenção. Em 1986, os músicos Bob Daisley (baixo) e Lee Kerslake (bateria), também processam Ozzy por causa do disco, desta vez reclamando os devidos direitos pela as essenciais participações no disco. Blizzard of Ozz também foi o disco que imortalizou a guitarra e o talento inovador de Randy Rhoads, o lendário guitarrista que morreu prematuramente após dois anos do lançamento do disco aos 25 anos de idade, num acidente de avião.
                                                      Metallica - Metallica (1991) 
  Este álbum colocou os dois pés do Metallica num plano mais comercial do mercado roqueiro dos anos 90, visto que o primeiro pé já havia sido colocado com a música “One” do álbum anterior (… and Justice for all de 1988) que rendeu à banda, inclusive, um vídeo clipe que passou a ser exibido exaustivamente na Mtv. Este fato fez com que os fãs mais tradicionais da banda, recebessem o disco homônimo e conhecido popularmente como “Black álbum”, com um pé atrás. Porém não foi preciso muito esforço para que o disco provasse que o som do Metallica, embora estivesse atingindo um público maior, ainda permanecia fiel aos princípios metaleiros que os consagraram como “a maior banda de metal de todos os tempos”. O disco não é tão rápido em comparação aos primeiros, no entanto parece querer compensar esta adaptação com um som conciso e intenso, como por exemplo nas agressivas “Sad but true” e “Wherever I may Roam” que afirmam o ideal do disco como potência e não velocidade. Este importante detalhe parece ter dado à banda, neste disco, um maior alcance à maturidade sonora. Com a impecável produção de Bob Rock, o álbum lançado em 1991, traz um Metallica perfeitamente harmonizado. Hetfield com seu timbre privilegiado, consegue lapidar a voz deixando-a na medida certa, sem exageros, alcançado tons altos e baixos naturalmente. Para muitos, essa foi a melhor fase do vocalista. Sua guitarra também encontra o equilíbrio e o resultado é um som pesado e bem definido, sem perder a famosa pegada característica de suas músicas, servindo de base ideal para os inconfundíveis solos de Kirk Hammet que, neste disco, abusa do pedal Wah Wha, sobretudo em “Enter Sandman”. Aliás, outro ponto alto do álbum são os solos de guitarra que são claros e, paradoxalmente, simples e complexos. Lars, não nos permite confundir menos velocidade com menos força e martela sua bateria com a conhecidas pancadas que são verdadeiras porradas nos ouvidos. Jason Newsted compõe os graves do disco com linhas comedidas e ajustadas, destaca-se nas músicas “My friend of misery”, onde determina uma melodia aprisionante e “The God that Failed”.

 
                                                           Pearl Jam - Ten (1991) 
Primeiro álbum da banda, lançado em agosto de 1991. Muito bem elaborado, cria-se no início do disco um clima de expectativa com o som percussivo tímido da primeira faixa “Once” e logo sabe-se para onde o rock norte americano da década de 90 se despontaria. Dispõe de clássicos indispensáveis para o Rock alternativo como “Alive” e “Even Flow”. Apesar de considerável repercussão nos Estados Unidos, foi somente no ano seguinte que o álbum teve seu devido reconhecimento mundo a fora embalado pela explosão grunge.

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