Joe Cruz
“Restart”
- nova largada. Novamente começar. Ou melhor, continuar a começar... Recomeçar.
Não
dá para entender facilmente o entusiasmo e a euforia que toma conta de grande
parte das pessoas nos finais de ano. Tudo bem, a simbologia é clara e forte na
nossa cultura, mas de todo modo, não dá para afirmar que é somente devido a ela
que os céus se enfeitem com explosões coloridas carregadas por vibrações de “tempos
melhores”!
Talvez a noção de mercadoria se aplique
também aos anos: já que tudo é produto, trocar um ano velho por um novo é
motivo compreensível para entusiasmo, como é típicos das crianças quando ganham
um novo brinquedo e engavetam o velho. Na verdade, o ano como produto só não é
descartado na metade, em plena capacidade de uso (como fazemos com o celular,
roupas, etc) porque somos obrigados a suportá-lo até o fim, até que a última
folha do calendário enfim se invalide. Do contrário, desconfio que o
descartaríamos a cada nova necessidade de recomeço.
Quem já jogou algum daqueles vídeo-jogos de
corrida de carrinhos sabe bem que largar mal e não recuperar o vacilo até a
quinta volta (no máximo), significa ser obrigado a apelar para o botão mágico
do vídeo game, o restart. Não dá para resistir! Recomeçar a corrida parece
oferecer a certeza de que na próxima largada o vacilo não se repetirá e assim
sendo, o cara se manterá na ponta, cuidando para não cometer nenhum erro até
cruzar a linha de chegada. O Start para algumas pessoas parece carregá-las de
uma forte intuição de que o (re) começo, simbolizado pelos abraços, pela
confraternização, os fogos, o barulho, as luzes, os espumantes, é na verdade
algo que redime as falhas e autoriza o novo, o sensato, o melhor. Tudo o que não
foi agora será! E assim, o que se vê raramente é a celebração pelo ano que
passou e acrescentou marcas na vida, mas sim a bajulação do que chega como quem
por medo do desconhecido procura supersticiosamente barganhar com o futuro
tentando convencê-lo (e a si próprio) de que agora sim e enfim não faltarão
esforços para o melhor. O futuro é um senhor desconhecido que tememos por sua
indiferença, e que nem por isso deixamos de querer domá-lo ou persuadi-lo com
nossas expectativas. O que será do ano novo... dúvida. Bom, na dúvida feliz ano
novo! Que Ele lhe traga muita paz, amor, prosperidade, felicidade... e se tudo
isso não vier até o próximo dia 31 de Dezembro, a culpa não será sua, mas sim
do ano que não se atentou para sua roupa íntima amarela ou esqueceu das ondas
que você pulou; ou ainda, não enxergou a lentilha que você guardou com tanta fé
na carteira...
Um
brinde ao ilustre desconhecido!
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